terça-feira, 14 de junho de 2016

Buracos e remendos marcam o caminho do BRT Transoeste

Para especialista, problema é por falha no projeto de drenagem

POR LUIZ GUSTAVO SCHMITT
13/06/2016 6:00 / atualizado 13/06/2016 8:49

Ônibus trafega pelo corredor exclusivo, tomado por buracos: para evitar remendos, alguns motoristas dirigem fora da pista - Domingos Peixoto / Agência O Globo

RIO — Calombos, remendos e muitos, muitos buracos. Esse foi o cenário encontrado anteontem pelo GLOBO ao longo dos 52 quilômetros de extensão do BRT Transoeste, que liga o Terminal Alvorada a Campo Grande e Santa Cruz. Primeiro dos quatro corredores exclusivos para ônibus no Rio, o sistema foi inaugurado há quatro anos.

Em todo o caminho, o quadro mais crítico é entre as estações Mato Alto e Pingo D'Água, em Guaratiba. Ali, não faltam crateras. No ponto de ônibus em frente à estação Mato Alto, no sentido Campo Grande, o asfalto cedeu tanto que é possível observar vergalhões expostos. Também havia calombos no asfalto na pista sentido Barra, em frente à Cidade das Artes, na entrada do Terminal Alvorada. Lá, há um trecho em obras, que é a segunda fase do corredor viário, que será prolongado até o Jardim Oceânico, onde se encontrará com a Linha 4 do metrô (Ipanema-Barra).

OBRA FICOU PRONTA EM 2012
O Transoeste foi anunciado em 2009, um dia depois de o Rio ter sido escolhido sede das Olimpíadas. A obra ficou pronta quatro meses antes da reeleição do prefeito Eduardo Paes, em junho de 2012. A precariedade na qualidade do asfalto não é uma particularidade do BRT: o Elevado do Joá, recém-entregue, já passou por uma operação tapa-buracos, na semana passada.

Representante da Associação Brasileira de Pontes e Estruturas (ABPE) no Conselho Regional de Engenheria e Agronomia (Crea), o engenheiro Antonio Eulalio Pedrosa Araujo disse que os buracos no corredor do BRT ocorrem por causa de falhas no projeto de drenagem da pista.

— O problema foi a falta de um projeto adequado de drenagem e o dimensionamento das camadas finais da terraplanagem do pavimento. O ideal seria rebaixar o lençol freático para aumentar a capacidade de suporte da pista. No Joá também houve problema de drenagem, mas é pontual — disse Pedrosa. — Essas deformações ocorreriam até mesmo se a pista tivesse sido feita de concreto, que também acaba rachando por falta de suporte da base. Os problemas de projetos no BRT são típicos de obras feitas às pressas e cujo andamento não é regido pela boa técnica, mas pela pressão de entregar no prazo político.

Diretora técnica da Associação Brasileira de Pavimentação, Luciana Dantas afirma que não é normal haver buracos numa obra viária de grande porte nos primeiros anos.

— No início não é para aparecer nada. O normal seria haver fissuras e trincas pequenas e não buracos. Mas isso depois de quatro ou cinco anos de uso. A falta de uma boa drenagem pode causar defeitos prematuros.

No percurso do BRT, a equipe de reportagem do GLOBO se deparou com alguns ônibus trafegando fora do corredor exclusivo, que é a essência desse sistema de transporte. No trecho entre as estações Mato Alto e Magarça, no sentido Santa Cruz, a pista do corredor teve que ser fresada, o que impedia a circulação dos veículos. Mais adiante, mesmo nos trechos onde não havia recapeamento, mas sobravam ondulações na pista segregada, os motoristas dos coletivos evitavam retornar pelo recuo e seguiam pela faixa dos carros de passeio.

Considerado um dos legados das obras da Copa de 2014 e da Olimpíada, o BRT recebeu seus primeiros retoques na pista em janeiro de 2013, sete meses após o início de sua operação. Os buracos da época causaram mal-estar e levaram a um bate-boca entre a construtora Sanerio e o prefeito. Paes disse que a obra estava malfeita. A empresa argumentou que os problemas ocorreram por causa da entrega às pressas antes da eleição.

Até hoje a situação persiste e reprises de cenas de recapeamento de buracos se sucedem no corredor. Entre os usuários, o BRT não é só elogios. Embora passageiros reconheçam que houve redução do tempo de deslocamento entre a Barra e Campo Grande, não faltam críticas relacionadas ao estado da pista e à superlotação.

— A pista está muito esburacada. É difícil manter o equilíbrio para quem viaja em pé, já que o ônibus está sempre lotado. Já vi muita gente se machucar — disse a usuária Bruna Oliveira.


A Secretaria de Conservação e Serviços Públicos informou que executa rotineiramente serviços de manutenção no Transoeste. Em 2016, um trecho de 12 quilômetros, em ambos os sentidos do corredor, passou por fresagem e recapeamento. Entre as estações do Magarça e do Mato Alto foi fresado outro trecho de oito quilômetros que aguarda condições climáticas favoráveis para aplicação do asfalto e finalização dos serviços. O Consórcio BRT informou que até o fim de julho serão acrescentados 158 ônibus à frota, a maior parte com 23 metros de comprimento e capacidade para transportar 220 pessoas cada.

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